15.6.02


Arrumando a casa

Cada vez que volto de viagem, a sensação que tenho é que preciso de pelo menos uma semana para pôr a minha vida digital básica em ordem. Primeiro, são as pilhas de emails acumulados -- aliás, desculpem, amigos que me escreveram nas duas últimas semanas e a quem ainda não respondi: não é falta de atenção com vocês não, apenas total falta de tempo; depois são as máquinas, que aparentemente se revoltam e dão problemas (dessa vez, até o ThinkPad, em geral tão bem comportado, andou fazendo das suas). Finalmente, o blog e seus petrechos -- ou é o Blogger Pro 2 que não funciona -- tudo bem, a gente quer dar uma força pro Ewan, mas êta sisteminha furado! -- ou o YACCS ou, nova novidade, o Bloglet, que até outro dia funcionava que era uma beleza, e agora está sem gás.

Em emails e nos comentários postados ao longo da semana passada, muita gente se queixou de não estar recebendo os avisos dele. Tenho feito verdadeiras peregrinações até lá, mudando isso, ajeitando aquilo (na maioria, problemas causados pelo Blogger Pro). Na sexta, o Monsour, autor do programa, postou um comentário no site em relação às falhas nos emails; ele está com medo de que o Bloglet tenha crescido mais do que seria desejável, um filme que os usuários de sistemas de comentários já estão cansados de ver. Agora, acabo de passar mais meia hora por lá arrumando os parâmetros do internETC. e parece que, finalmente, está tudo funcionando. Este post é, aliás, um teste para o Bloglet: vamos ver se ele se toca. {SIGH}




13.6.02


Por falar em jornalismo...

Com a palavra, o Carlos Alberto Teixeira, vulgo Cat:

Gostaria de lhes apresentar uma versão livre que fiz para o português de um artigo publicado em 2002-05-26 no New York Times com o título "Fighting to Live as the Towers Died", escrito por Jim Dwyer, Eric Lipton, Kevin Flynn, James Glanz e Ford Fessenden. O original em inglês está aqui. A tradução foi publicada em oito partes na Parabólica do Globonews.com e pode ser encontrada numa única página. Para quem preferir uma versão pronta para imprimir, aqui há um arquivo RTF.

É um texto longo e forte. Mas vale a pena. - c.a.t.

Eu li o original quando foi publicado, e louvo a iniciativa do Cat de traduzi-lo: o texto é um primor de reportagem, um trabalho de garimpo competente, minucioso e comovente como poucas vezes vi.




12.6.02


O X do problema

Nos comentários abaixo da minha chamada para o Dapieve, o Tom Taborda, que entre outras coisas é médico, chama a atenção para um artigo que escreveu há tempos para Observatório da Imprensa sobre a total impossibilidade de se reprimir o narcotráfico. Leiam, é da maior importância. Eu assino embaixo: enquanto todas as drogas não forem liberadas, nós não conseguiremos sair deste inferno protagonizado por traficantes, policiais, advogados e juízes corruptos. E, principalmente, vítimas inocentes.





Respondendo a um comentário

"Um jornalista foi assassinado. Isso é mau, mas não é motivo para tanta repercussão.

Muitas mais pessoas são assassinadas diariamente, seja durante o seu trabalho ou não.

Diferentemente deste jornalista, a maior parte dessas pessoas tenta levar uma vida pacata, não vai atrás do perigo.

Mas como o jornalista era da Globo e amigo de muitos outros jornalistas, o seu assassinato tem um impacto muito maior na imprensa.

Isso não tem nada a ver com "liberdade de informação". Não é o mesmo caso de uma ditadura impondo a censura. Basta um único marginal se sentir incomodado com o trabalho do jornalista e decidir se livrar dele.

A verdade é que há pessoas assassinadas por muito menos.

Não estou menosprezando o assassinato. Apenas acho este mais um caso entre tantos que fazem com que a situação seja terrível. Ronaldo"



Desculpa, Ronaldo, mas há, sim, um motivo especial para a repercussão da morte do Tim, como houve para a repercussão da morte do Daniel Pearl, no Paquistão -- e não é que um trabalhasse para a Globo e o outro para o WSJ, e que tivessem, ambos, muitos amigos jornalistas.

Nenhum deles estava onde estava ao ser capturado indo "atrás do perigo". Eles iam atrás de acontecimentos e de informações preciosas para que uma sociedade possa saber de si mesma, possa ter idéia do que está acontecendo em suas diversas camadas. Como é que você poderia saber do que está acontecendo nos morros cariocas sem o trabalho de repórteres como o Tim? Como é que nós poderíamos saber o que está acontecendo nas muitas zonas de guerra do mundo sem o trabalho de repórteres como o Pearl?

Se eu tivesse sido assassinada no lugar do Tim, aí sim, seria "um caso entre tantos", já que, apesar de jornalista, eu tento, como diz você, "levar uma vida pacata": o maior risco profissional que corro é pegar uma tendinite. Eu não estaria lá tentando obter informações, tentando descobrir uma verdade que a polícia evita, por omissão ou pura covardia; eu não estaria lá me arriscando para tentar sacudir a sociedade e o estado e dizer: OLHEM ISSO, VEJAM O HORROR QUE ESTÁ À NOSSA VOLTA!

Como você, eu só sei desse horror através das palavras de colegas como o Tim, que têm consciência social e coragem suficientes para ir até lá, e nos contar, quando voltam, a que ponto chegamos.

Para a população que "tenta levar uma vida pacata" mas é vítima constante da brutalidade do tráfico, de um lado, e da polícia, do outro, um repórter como o Tim é a única esperança de que algo aconteça, algo mude para melhor.

A morte de um repórter numa zona conflagrada é -- como a morte de um médico ou de um enfermeiro, outros profissionais que têm essa mania de "ir atrás do perigo" -- a morte do último resquício de esperança para quem já não tem mais nada.





Dapieve, sobre Tim






11.6.02


Não percam!

Acabam de me avisar aqui no jornal para não perder o Observatório da Imprensa que vai ao ar logo mais, às 22h30, na TVE. Em pauta, o caso Tim Lopes. Se você não puder assistir, pelo menos leia o que o Dines escreveu. Ao que ele diz, eu acrescento: enquanto existirem jornalistas como Alberto Dines, o jornalismo continua vivo.





Volta ao lar

RIO -- Cheguei no começo da tarde, resisti a todas as tentações do Duty Free e peguei luz verde na alfândega, verdadeiro milagre que muito agradeci aos meus Penates. Não que estivesse trazendo qualquer coisa de especial; mas a minha mala, de casca dura e feita às carreiras, sem o capricho da ida em que tudo vai dobradinho em saco plástico, estava naquele ponto em que, se abrisse, não fechava mais.

Os gatos me receberam com a curiosidade habitual: cheiraram cada centímetro da minha roupa, e ficaram encarando duramente as malas que, imagino, consideram culpadas pelas minhas ausências. Ou não? Pensem só: sempre que esses retângulos pretos entram em cena, eu desapareço da vida deles...

Na mailbox, intocada desde sexta-feira, quando o modem do ThinkPad subiu no telhado e fiquei sem computador, havia quase 600 msgs. Pelo menos 500 eram spam. E isso no meu endereço pessoal! Aqui no jornal, felizmente, a Luizinha anda dando limpas gerais -- quando eu chego, todos os anúncios de Viagra, propostas de trabalho caseiro e receitas milagrosas para emagrecer já foram pro espaço.

Mas a reentrada na vida real é dura. Fiquei sabendo do brutal assassinato do Tim Lopes, li que milhares de soldados do Exército (!) estão construindo um caminho alternativo (!!) para a Vila Militar (!!!) porque o atual fica na rota do tráfico (!!!!) e é perigoso (!!!!!), recebi um email da Laura me chamando a atenção para a coluna do Roberto Moura que, por acaso, também fala a respeito disso e, de quebra, observa que a situação da Cinemateca do MAM continua preta -- e, juro, fiquei com vontade de voltar correndo pro aeroporto pra ver se o avião ainda estava lá pra me levar de volta a São Francisco.

Lá sou amiga do Lynn.